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domingo, 11 de dezembro de 2011

Horário de Almoço

velho_em_banco

Todos os dias, um homem velho se sentava no mesmo local para almoçar. A distância do trabalho à sua casa era muito longa, por isso ele preferia ficar sentado no banco de uma praça, fazendo a sua refeição. A comida era muito simples e, raramente, era acompanha de algum suco ou água. Ele comia sozinho todos os dias. E isso o fez um bom observador sobre o que ocorria ao seu redor naquela praça.

Mas houve um dia que ficou destacado em sua memória. Enquanto comia saboreando ao máximo o seu almoço, vagarosamente, aproximava-se dele uma cadela marrom e de médio porte. Não demorou muito para que o velho homem percebesse uma sutil presença. No entanto, ao levantar seu rosto e olhar para a pobrezinha, ela se assustou e recuou um bom par de passos. Ela teve medo.

O velho logo percebeu pela cara dela, ou melhor, pela língua, que ela estava com sede, muita sede. E vendo que ela não tinha dono, pensou que também deveria estar com fome. Catou, então, um pedaço de carne de seu prato e colocou no chão, dizendo:

– Venha, mocinha! Este pedaço aqui dou para você!

Mas a cadela se afastou mais ainda. Por isso, o homem pegou outro pedaço de carne de seu prato e o colocou novamente no chão, mas, desta vez, não tão perto dele.

Ela pensou em se aproximar e chegou a dar alguns passinhos para a frente, mas logo voltou a recuar ainda mais. A mesma coisa aconteceu várias outras vezes. O homem, portanto, pensou:

– Com essa língua para fora desde que chegou, acho que deve estar mais com sede do que com fome.

Porém, naquele dia, o homem não estava bebendo nada. Mesmo assim, se dispôs a levantar e procurar um copo. Só que quando se levantou, a cadela se assustou de vez e saiu correndo até sumir de vista.

Com a certeza de que ela voltaria, ele continuou a procurar algum copo jogado pelos gramados da praça. Foi difícil achar um, mas depois de uma caprichada busca, enfim, encontrou. Para encher de água foi fácil, havia uma torneira a alguns passos de onde ele costumava se sentar.

Copo achado e copo enchido, este foi colocado no chão. Agora era só esperar a volta da cadela.

– Tiro e queda, eu sabia que você voltaria. Não precisa ter medo, pode tomar o quanto de água você queira!

Mas por algum motivo, ela ainda tinha medo. E após olhar o homem nos olhos, deu meia-volta e se mandou com a língua ainda para fora de tanta sede.

Já o velho homem ficou triste e pensativo:

– Nossa, eu fiz tudo para ajudá-la: dei um pouco da minha comida e fui buscar água só para que ela bebesse e, no entanto, ela recusou. E recusou de medo de mim. Pobrezinha. Deve ter apanhado bastante por tentar se aproximar de pessoas para pedir água ou comida. Com certeza achou que eu fosse fazer o mesmo.

Ele ainda tinha meia hora antes de voltar ao trabalho. Terminou de almoçar e ficou ali olhando os pedaços de carne e o copo cheio de água. Pensou:

– Fiz tudo isso à toa! Ninguém vai comer essas carnes e nem beber essa água. Que desperdício!

Nesse mesmo instante, no momento em que terminava seu pensamento, apareceram dois outros cachorros. Ambos eram pretos e pequenos. Era óbvio que eles também não tinham donos. Um tinha os pêlos um pouco desarrumados, mas o outro, parecia um monstrinho de tão feio.

Já chegaram comendo os pedaços de carne e depois, enquanto um bebia água, o outro esperava. O homem pegou o resto do seu almoço e se aproximou dos dois, abaixou-se e o colocou no chão. Nenhum deles se assustou! E o velho sabia que aqueles cães já tinham apanhado por pedir comida ou por pura maldade das pessoas e, mesmo assim, eles não tiveram medo.

O cão que esperava comeu mais um pouco e o outro, que bebia água, já tinha praticamente acabado com a água do copo e enfiava o focinho o máximo que podia dentro do copo para beber o que sobrava.

Vendo que a água tinha acabado, o homem pegou o copo e foi novamente até a torneira e o encheu. Quando voltou, foi a vez do outro cãozinho tomar água. E ele fez igual ao seu companheiro e bebeu o quanto pôde. O homem achou aquela cena muito engraçada: eles faziam de tudo para que o focinho não os impedisse de tomar toda a água do copo.

Já satisfeitos, os dois foram embora juntos, seguindo o mesmo caminho. E deixaram o velho homem a pensar:

– Enquanto uns têm medo das oportunidades que aparecem, outros as agarram com unhas e dentes.

Eduardo Franciskolwisk

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