Conhecendo o Leitor

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terça-feira, 9 de julho de 2013

Fechado para Balanço

 

FECHADO para balanco 1

OU

 

fechado para balanço

Isso não é um adeus. O blog não acabou. Mas eu preciso de um tempo.

Quanto tempo? Não sei, mas não quero mais ter a obrigação de pensar em coisas para o blog, pois querendo ou não quando publico aqui é para as pessoas lerem, gostarem e comentarem. Isso não tem acontecido. E ultimente, não estou nem com vontade de ler o blog de outras pessoas.

Às vezes acho que estou perdendo meu tempo. Cheguei a um ponto onde até quando escrevo aqui no blog me sinto sozinho. E eu não quero mais ser sozinho.

Como não há remédio para a minha solidão, vou assumi-la e tentar escrever só para mim. Talvez, eu publique depois. Talvez, eu nem escreva mais nada… Não sei!

A intenção é esta: fechar o blog para tentar me balançar mais, me divertir mais, viver mais. Não faz sentido alguém que sabe tão pouco da vida querer escrever sobre ela.

Tenho mais tristezas do que alegrias para contar e embora isso seja interesante para alguns, afasta a maioria das pessoas.

Até qualquer dia!

Eduardo Franciskolwisk

domingo, 2 de junho de 2013

Chances diminuídas

Nesta semana que passou, estive nas nuvens. Não consegui me concentrar muito bem porque o mais importante para mim, ficou em segundo plano.

Havia uma pequena possibilidade de algo novo. Talvez ainda haja, mas agora acho que foi só um vislumbre.

E embora o andar da carruagem não tenha seguido o rumo planejado e a ansiedade esteja quase me matando, posso dizer que fiquei feliz.

Mesmo estando um pouco decepcionado neste momento, posso dizer que senti muito mais coisas boas do que ruins.

Nesta semana que passou, eu me empolguei tanto, sonhei tanto, que ao colocar os pés no chão doeu um pouquinho (na verdade, doeu muito mais do que eu queria).

O importante é que foi emocionante para o lado bom. E a música que publiquei aqui me emociona também porque eu me vejo dentro dela. Sempre me vi.

Dei um passo muito pequeno em relação ao que eu queria dar, mas fiz o meu melhor possível no momento. Estou tentando sair dos sonhos e entrar na realidade. É por isso que acho que minhas chances reais diminuíram.

Mesmo assim, vale mais uma chance na vida real do que uma certeza nos sonhos em que sempre vivi.

Eduardo Franciskolwisk

sábado, 25 de maio de 2013

É burrice?

Teatro

De duas, uma: ou sou meio burro ou sou um burro por completo.

Por que será que eu nunca consigo entender uma peça teatral?

Eu já até resolvi não gostar de assistir teatro. Evito ir. Em algumas peças as linguagens são antigas e chatas, em outras não consigo ouvir direito o que o ator está falando e perco a história. Enfim, cada dia é uma coisa.

Porém, hoje, resolvi tentar de novo. Fui ao teatro assistir a uma peça chamada “Os amigos dos amigos”, me esforcei ao máximo para prestar atenção e entendi praticamente tudo. As atrizes eram boas, consegui ouvi-las perfeitamente, a forma com que elas encenaram foi bem atrativa, a história foi interessante e me prendeu. Só que não entendi o final. Para mim não houve final. Nunca consigo entender o final direito, ou seja, nunca sei aonde os atores, o diretor e o escritor querem chegar. Acho que o problema sou eu. Não sei o porquê, mas não consigo enxergar o “tchan” da coisa.

Agora estou com um vazio na minha mente. Tenho a sensação de que uma peça do quebra-cabeça está faltando. Fiquei no vácuo! De novo. E de novo não gostei.

Eduardo Franciskolwisk

sábado, 11 de maio de 2013

Minha crise dos 30 anos

Estou prestes a completar 30 anos e o sentimento que tenho é o de que sou um fracassado. Nada do que planejei na vida deu certo.

Não tenho amigos. Não virei escritor famoso, nem jornalista. Não tenho namorada. Não tenho filhos. Não tenho um emprego em que eu me sinta valorizado intelectual e financeiramente, muito menos tenho meu próprio negócio. Não conheci o mundo e também não consegui mudá-lo.

Em algumas vezes, quando vejo ou penso na vida dos meus conhecidos, sinto pena de mim mesmo. E aí eu me pergunto: “Onde foi que eu errei? O que eu fiz para dar tão errado assim?”.

Estas perguntas são amenizadas em meus pensamentos porque descobri que tenho fobia social. E junto com isso descobri também que ao longo da minha vida fiz várias “coisinhas” erradas que resultaram na pessoa perdida que sou hoje. E estas “coisinhas” viraram monstros para mim. Elas ficaram grandes demais e a pessoa em que me tornei ficou pequena. O tempo não volta, portanto, é impossível consertá-las.

Quando eu penso no que eu gostaria de ter feito e sido, sinto vontade de chorar. E mesmo com os olhos cheios de lágrimas, não consigo pensar numa solução.

Vejo as pessoas trabalharem normalmente e se sentirem bem com isto (ou seja, sem entrar em pânico). Algumas vezes, sinto inveja delas. Cada respiração diferente que sinto no meu trabalho me dá desespero. Se isso acontecesse às vezes seria normal ou suportável, mas comigo acontece todos os dias. Só o fato de eu pensar em atender alguém me deixa muito ansioso.

Vejo as pessoas saírem com os amigos; namorando, casando e tendo filhos. Aí, vejo-as tendo dinheiro o suficiente para criá-los com dignidade (escola boa, comida boa, cabeça boa, etc...). E quando olho para mim, vejo que fiquei para trás. É como se eu tivesse parado no tempo.

Hoje, eu estou triste.

Se eu pudesse voltar atrás, faria várias coisas diferentes. Embora eu ache que algumas vezes, as decisões erradas que tomei foram porque, na verdade, não tive escolha.

Não consigo manter contato por muito tempo com uma pessoa. Amigos de infância se foram. Amigos de adolescência se foram (embora conversemos). Amigos de faculdade se foram. Amigos de trabalho nunca tive. Ultimamente, até na internet as pessoas não conversam mais comigo. Talvez eu pegue pesado com as pessoas. Talvez eu faça isso porque sempre pegaram pesado comigo (ou fingiam que pegavam e eu acreditava...). Enfim, isso já não me importa...

Eu sei que é ridículo, mas eu cheguei ao ponto de ter pena de mim mesmo. Tenho vergonha de mim mesmo.

Acho que desisti da vida e só estou esperando a morte.

Não fiz nada da vida e é improvável que eu o faça.

Isso seria uma crise ou é só minha ficha caindo?

Eduardo Franciskolwisk

domingo, 28 de abril de 2013

Revelações de uma mente bloqueada

Eu estou bloqueado! Nossa, eu simplesmente não consigo mais escrever. Por vários dias, sentei-me na frente do computador e falei pra mim mesmo “Hoje, eu vou escrever aquele texto que está na minha cabeça há séculos”. Mas, em todos esses dias, desliguei o computador sem ter escrito nada que fizesse sentido para as outras pessoas. O máximo que eu conseguia eram frases curtas as quais continham idéias para outros novos textos. Só que o texto que eu tinha a intenção de escrever, não saiu.

Acho que estou tendo dificuldade de costurar um parágrafo no outro. Sei lá! Esse é um daqueles problemas que não importa se você conhece ou não o que o causa, porque isso não vai te ajudar a resolvê-lo. Esse é um daqueles problemas que se resolvem por si só, quando a gente menos espera “Pum”, eles já sumiram. Então, daqui um tempo, tudo voltará ao normal: eu vou sentar a bunda na cadeira com uma idéia na cabeça e vou levantar com um texto no papel.

Porém, enquanto isso não acontece, vou contar um segredo. Escrever não é muito legal. No meu caso: demora muito, tenho de ficar olhando palavras no dicionário, preciso tirar dúvidas em livros e perguntar algumas coisas para o povo daqui de casa, enfim, escrever dá trabalho. E o pior é que a maioria das pessoas não lê. Ler é chato. Escrever é chato.

É chato, mas eu gosto!

Eu não sou uma daquelas pessoas que não vive sem escrever. Aliás, às vezes, eu passo meses sem colocar o que penso no papel. Isso acontece porque não acredito na qualidade dos textos de pessoas que escrevem todos os dias e todas as horas. Para mim, escrever é muito mais do que isso. Não importa se o texto tem a intenção de agradar, irritar, acalmar ou enriquecer seu cérebro, mas é necessário que mexa com o leitor.

Houve uma época em que eu queria ser um grande escritor, mas me sentia pequeno demais diante dos outros. Esse negócio de saber de pessoas que escrevem até os olhos envesgarem na frente do computador me incomodava. Hoje, não incomoda mais porque eu achava que eles tinham idéias fabulosas aos montes e por isso não paravam de escrever. A internet tornou possível que eu conhecesse os textos de algumas dessas pessoas e pude ter a certeza de que eles estão errados. Certo estou eu, que só escrevo quando as idéias ficam martelando a minha cabeça dizendo “Vai lá e escreve isso. Vai lá e escreve aquilo.”. Sabe quando tem uma formiga dentro da sua calça e você só sossega quando consegue tirá-la de lá? Esse é o momento em que escrevo.

E por isso, por escrever só de vez em quando e só quando estou com muita vontade, inventei essa frase: “Escrever é quase como ir ao banheiro, não faço toda hora, mas se der vontade e eu não fizer, tenho a sensação de que vou explodir.”

Eu já disse que escrever é chato e ainda digo mais: não dá dinheiro! Muitos escritores famosos já teriam morrido de fome se não tivessem outra profissão. Mesmo assim é uma coisa fabulosa.

Ao escrever textos verídicos, falo o que quero e sem ter um chato para ir contra a minha opinião ou me fazer calar. É possível calar a minha voz, mas nunca os meus textos. Eu não tenho medo de dizer a verdade. De escrevê-la, muitíssimo menos!

Já em textos fictícios, é possível brincar de Deus. Sou eu quem mando e desmando nas personagens: dou a vida e posso tirá-la a qualquer momento, decido suas personalidades e seus destinos. Enfim, escrever é fantástico. Só é necessário lápis e papel e pode-se ter o mundo inteiro nas suas mãos.

Algumas pessoas sabem que ao se escrever um texto não se deve repetir muito uma única palavra. Eu posso não saber disso, mas eu sei que escrever é muito mais do que escrever um monte de escrever num texto sobre escrever.

Alguém aí tem um desbloqueador pra me emprestar?

Eduardo Franciskolwisk

Naquela casa

Era mais uma noite monótona, da qual eu não tinha nada para fazer. Resolvi então me distrair nos chats de bate-papo na internet. Quando eu entrei na sala de bate-papo da internet, fui procurar alguém interessante, e a escolhida foi a “Possuída1930” (esse nick me chamou a atenção), com a qual comecei a conversar. Ela era extremamente engraçada, pois não sabia mentir, e mentia mais que o próprio Pinóquio. Ela falava coisas impossíveis . E eu, é claro, não acreditei em nada do que ela disse. Ela falou que me conhecia, sabia obviamente meu nome e sabia também até onde eu morava.

Resolvi então entrar no jogo dela...

– Eu sei que você sabe!! – escrevi e mandei a mensagem.

– Não seja cínico, você sabe o que eu faço com pessoas como você? – ela me respondeu

– Não, não sei, o que você faz com pessoas como eu?

Enviei a mensagem e fui atender a porta, que tocou no mesmo instante que eu escrevia a mensagem. Quem teria coragem de encher o saco em plena meia-noite e meia? Claro, a tonta da minha irmã que vive esquecendo as chaves.

Abri a porta e não havia ninguém. Mas isso não me preocupou, preferi pensar que fosse um engraçadinho feliz tocando a campainha e que depois corria para não ser pego. Fechei a porta e tentei trancá-la, isso mesmo, tentei, pois não consegui. A chave estava presa, não rodava e nem queria sair da fechadura. A chave parecia estar colada.

Com certeza eu achei isso extremamente estranho e fui correndo para o computador, para que eu pudesse desocupar a linha telefônica. Quando cheguei no quarto, o computador estava desligado e isso me fez ficar desesperado, mais do que eu já estava. De repente na tela do computador apareceu escrito a seguinte mensagem: “É isso o que eu faço com pessoas como você, com pessoas vivas!”

Desespero já era pouco em relação ao meu estado emocional. Imediatamente pensei em pegar o telefone e ligar pra alguém, mas as minhas pernas estavam imóveis, somente consegui me virar quando senti algo atrás de mim. Era o telefone que estava só flutuando um pouquinho na minha frente; notei que tinha alguém no telefone, porque eu escutava uma voz saindo dele. Eu não sei como, mas peguei o telefone e comecei a contar tudo o que estava acontecendo comigo na casa. E uma voz grossa e horrível falou:

– Você não tem saída – e o telefone simplesmente derreteu na minha mão.

Aquela voz me lembrou umas das poucas coisas das quais eu tinha medo. Segurei o meu crucifixo que sempre carregava no pescoço. Tive a certeza de quem era aquela voz quando minha mão foi queimada pelo crucifixo. E então eu fui obrigado a soltá-lo. Ao cair no chão ele começou a pegar fogo.

Quando vi aquilo comecei a correr pela casa, mas não encontrei nenhum modo de fugir de lá. Por esse motivo me atirei no chão e comecei a rezar e a chorar ao mesmo tempo. Rezei tudo o que eu não havia rezado nos últimos anos. Mas, enfim, tudo se acalmou. Olhei ao meu redor e só consegui ver a televisão. E do nada ela ligou. Não vi direito, mas a imagem parecia a de um túmulo de cemitério. A única coisa que eu vi com nitidez foi o número 1930. Tudo começava de novo, e pra festa ficar mais animada as luzes se apagaram e a TV foi aumentando até chegar ao tamanho da tela de um cinema. Dessa tela eu vi sair uma luz meio avermelhada no formato de um homem, que vinha na minha direção.

Vi tudo isso sumir quando a cadeira do alpendre de casa, atravessou a porta de vidro estraçalhando-a completamente. E eu vi a figura da minha irmã entrando pela sala como uma heroína (nunca pensei que eu fosse dizer isso um dia). Mas ela estava desesperada pois não sabia o que estava acontecendo. Eu não vi de onde veio o vaso que bateu em sua cabeça e que a fez desmaiar. Só sei que eu me levantei, peguei-a nos braços e sai daquela casa, daquela maldita casa.

Eu nunca esquecerei o que escutei no momento em que eu saia da casa com a minha irmã.

– Pode fugir, mas não pode se esconder – disse a voz do telefone.

Eduardo Franciskolwisk

A florzinha

Todas as florzinhas do mundo nascem, crescem, se reproduzem e morrem. A florzinha desta história não seria muito diferente das demais, mas um pequeno detalhe faz com que esta seja diferente, muito diferente.

Essa florzinha incomodava. Incomodava como muitos elefantes nunca conseguiram. Era feia e fedida. Sincera e corajosa. Cheia e útil.

Uma vez, um flor ligou pra ela, mas ele teve medo e não falou o que sentia para ela. Para conseguir o que queria, teve que falar com a florzinha através de recados os quais eram envidados por Terceiros. Os recados diziam:

– Senhora florzinha, peço gentilmente que fique quieta. Que cale a boca! Estou mandando que a senhora abra mão do seu direito de expressão. E que cale a verdade para que a mentira se sobressaia!

A florzinha não gostou nadinha disso e falou:

– Você pode fazer a gentileza de mandar esse tal flor vir falar comigo sobre isso? Ou será que ele tem medo de mim?

– Não sei, se ele tem medo de você! Só sei do recado... – disse o Terceiros.

– Tudo bem, isso não é muito importante. O que importa é que eu não tenho nenhum medo dele. Seja ele o flor que for, eu não tenho medo.

Muito tempo depois, o flor ainda mandava seus recados para a florzinha. Ela se irritou e também mandou seu recado para o flor através de Terceiros.

– Por favor, senhor Terceiros. Diga ao flor que se ele tem algo para conversar comigo, que venha falar na minha cara. Eu prefiro assim, pois os recados são facilmente distorcidos. Diga-lhe também que se ele não deve, não tem nada a temer.

Tal recado foi levado e nunca mais voltou. O flor, pelo que se ouviu falar morreu. Morreu de medo. Mas isso provavelmente era só um boato. (Afinal, o que as pessoas falam por aí, geralmente, não chega nem perto da verdade.)

As outras florzinhas ficaram sabendo da história, mas não se manifestaram. Ficaram quietas. Elas eram todas iguais. Não incomodavam ninguém. E por isso continuaram do mesmo jeito que eram. Eram bonitas e cheirosas. Falsas e medrosas. Vazias e descartáveis.

Soube-se depois, que por serem assim, essas outras florzinhas foram sendo arrancadas uma por uma, rumo à morte!

E até hoje, a florzinha feia e fedida, sincera e corajosa, cheia e útil, continua esperando o flor vir falar com ela pessoalmente. Nem que se fosse na forma de alma penada. Pois como ela mesma disse:

– Seja ele o flor que for, eu não tenho medo.

Eduardo Franciskolwisk

Dois contra uma: a depressão

Eles nunca tinham sido amigos. Eles nunca tinham se visto e nem se esbarrado por aí. Eles não tinham nada em comum, além do motivo que os tinha levado àquela pequena sala de espera.

Além dos dois, havia mais duas mulheres: a secretária e uma quarentona que não conseguia segurar o choro. Um pequeno lenço de pano era o único a tentar consolá-la, absorvendo o quanto podia do pranto da mulher. Todos estavam sérios!

A secretária, já acostumada com esse tipo de gente, era calma e tinha muita paciência. Era a única que sorria sinceramente quando algumas palavras eram trocadas por ali. Para tentar ajudar aos outros, ela sempre dizia a si mesma:

– A depressão é contagiante, mas tenho certeza de que o sorriso também é!

E era por isso que ela sorria ao falar com aquelas pessoas.

O silêncio era a maior parte do tempo. Porém, uma vez ou outra, alguns olhares eram trocados entre os quatro.

O psiquiatra, pelo telefone, disse que a secretária poderia pedir para que a mulher desesperada entrasse em sua sala. A secretária a conduziu até a sala dele. Passaram-se alguns minutos, algumas dezenas de minutos... E nesse tempo, os três que haviam ficado, mantiveram silêncio. Os dois adolescentes não choravam, mas era possível ver em suas caras sérias e em seus olhares fixos e pensativos, a tristeza, o desespero e a apreensão.

Mais ou menos, duas horas se passaram e a mulher saiu da sala do doutor bem mais aliviada e calma. Sinceramente, não era nem possível ver que ela tinha chorado. Na mão, ela carregava a receita de um antidepressivo: Oxeflutina 5mcg.

Logo depois, foi a vez de um dos adolescentes. Uma hora depois, ele saiu da sala do psiquiatra com um sorriso tão sincero quanto o da secretária. Ele realmente estava se sentindo bem e comentou com a moça:

– Fui diagnosticado como “maníaco depressivo” – brincou ele. – Mas falando sério, – continuou – esse cara aí é médico ou é mágico? Estou me sentindo muito melhor!

A moça riu e se despediu dele. Enquanto ele ia embora, olhou mais uma vez para o outro adolescente e disse abanando a mão com a receita médica:

– Tchau! Qualquer dia a gente se vê por aí... Ou, por aqui mesmo!

O outro adolescente fez apenas um sinal com a cabeça. Era quase certo de que ele também sairia melhor dali.

Segundos depois, a secretária disse para o último paciente:

– Vamos entrar? O doutor já está esperando!

O mesmo aconteceu! Uma hora depois , mais ou menos, o adolescente foi embora bem melhor do que tinha chegado, levando consigo a sua receita.

Dias... Semanas... 3 meses havia se passado. Em um certo dia, o adolescente que se julgava “maníaco depressivo” viu o outro passando em frente a sua casa. E somente o observando, descobriu que ele tinha se mudado para ali perto. Naquela mesma noite, quando ia ao curso de inglês, viu que o novo vizinho estava entrando em um terreno baldio carregando algo que ele não pôde ver. Curioso e sempre pensando no pior, resolveu segui-lo.

Ao entrar no terreno, no meio do matagal, viu com muita clareza a cena: o adolescente estava com uma arma voltada para a própria cabeça.

Ambos se assustaram! Com o pensamento rápido, o adolescente tentou dizer coisas que fizessem com que o outro desistisse, mas não conseguiu. Afinal, ele não era psiquiatra. Tudo indicava que o outro apertaria o gatilho do revólver.

Então, ele disse o que sentia, fazendo o outro soltar a arma e continuar a viver:

– Olha, cara, se eu estivesse com depressão, certamente, eu diria para você: “Vai em frente!”. Mas como eu não estou com depressão, o meu conselho é: “Esqueça isso, vai! Enfrente!”. Eu ajudo você! É só disso que você precisa!

Eduardo Franciskolwisk

O Doido e Médico

Existem médicos que são doidos. Por outro lado, existem doidos que são médicos...

– Mas como? Como vocês o deixaram escapar? – disse o diretor do manicômio a seus enfermeiros?

– Não sei, doutor! – respondeu um deles.

– Mas como? Como vocês não sabem? – repreendeu o diretor novamente. – Quero saber agora mesmo, qual de vocês estava na portaria?

Uma mocinha, novata no hospital para doidos, levantou a mão lentamente. Seu rosto estava com uma expressão sem graça. Quase sem voz falou:

– Era eu, doutor. Era eu quem estava na portaria quando o doido maluco fugiu.

– E porque a senhorita não fez nada? Por que não avisou ninguém?

A moça, mais sem graça ainda, explicou:

Na verdade, doutor, ele não fugiu. Eu dei permissão para que ele saísse.

– Mas como? Como a senhorita pôde fazer essa burrada no seu primeiro dia de trabalho?

– É que ele estava vestido de médico. E hoje de manhã, disseram-me que seria normal aparecer o Napoleão, o Batman, Jesus Cristo... até a Xuxa me disseram que já apareceu por aqui. Portanto, não pensei que eles fossem capazes de se passarem por médicos.

– Lembre-me, minha filha, – aconselhou o diretor – eles são loucos e não burros! Burros são vocês que são incapazes de cuidar dessas pobres pessoas! E digo mais... – porém não disse. O diretor naquele momento tinha escorregado em uma poça de água que havia ao lado do bebedouro, dentro mesmo de sua sala. Ele caiu de costas e bateu a cabeça em uma das pontas de sua própria mesa.

Ao verem o sangue se espalhar pela sala, os enfermeiros, ao contrário do que era esperado, logo se desesperaram. A verdade é que eles eram enfermeiros de mentirinha, ou seja, tinham o título, mas não eram capazes de fazer coisa alguma para ajudar.

De repente, a porta da sala do diretor se abriu. Um dos pacientes, que tinha o cabelo à Albert Einstein, gritou:

– Levem-no para o hospital de gente normal aí da frente!

Os enfermeiros se entreolharam indecisos. Várias vozes de outros loucos começam a torcer como se estivessem num estádio de futebol:

– Leva! Leva! Leva! – dizia o coro!

E vibraram com a mesma intensidade de um gol feito quando, finalmente, os enfermeiros escolheram seguir o conselho!

Colocaram, então, o diretor rapidamente e de qualquer jeito mesmo em um leito desses com rodinhas! Todos os enfermeiros foram para o hospital que ficava em frente àquele em que estavam. Alguns deles foram na frente para já providenciar o socorro necessário, outros empurravam a cama ambulante e tinha também as “enfermeiras-comadres” que ficaram para trás, mas também indo ao hospital, comentando (lê-se “já fofocando”) sobre a tragédia.

O primeiro grupo já tinha encontrado um médico e quando o doente chegou já estava tudo pronto para que ele fosse internado. O homem de branco explicava com palavras difíceis sobre o quadro clínico do diretor e, por isso, nenhum enfermeiro entendeu nada.

Quando o terceiro grupo chegou, aquele das enfermeiras-comadres, houve um silêncio. Eles se tocaram! Só agora a ficha tinha caído. Ninguém havia ficado cuidando do manicômio. A mocinha novata, que tinha chegado junto com as fofoqueiras, quero dizer, “enfermeiras-comadres”, arregalou os olhos e falou para si mesma: “Esse médico é aquele doido!”. Pensou um pouco e decidiu dizer para alguém, porém, mandaram-lhe que ficasse quieta. Tentou falar novamente, mas um colega que estava falando sobre a possível fuga dos outros loucos gritou com ela:

– Não dê palpites, sua “encompentente”. Anda, faça algo certo. Volte para aquele “manicômbio” e cuide para que os outros loucos não fujam!

Chateada pelos insultos do colega e se sentindo culpada por tudo que estava acontecendo, ela voltou para o hospital onde trabalhava sem dizer nada sobre o médico.

Chegando lá, percebeu que um estranho silêncio reinava no local. Ela suava frio. Será que todos os outros tinham fugido? Não... Agora ela tinha começado a escutar uma voz:

– Três mil, duzentos e vinte e quarto; três mil, duzentos e vinte e cinco... – o louco estava contando virado para parede e não pôde continuar porque tinha sido interrompido pela moça.

– Escute, onde estão os outros?

– Estão escondidos! – disse ele. – Estamos brincando de esconde-esconde! E todos estão escondidos.

– Mas eu não estou vendo ninguém escondido...

– Ora, minha senhora! Claro que não, você não pode vê-los se estão escondidos! – disse o doido colocando as mãos na testa como se estivesse inconformado e depois continuou. – Sabe? A senhora não pode vê-los porque eu estou brincando com os meus amigos invisíveis.

A mocinha pôs uma mão no peito e acalmou-se:

– Nossa! Já estou mais aliviada. Achei que só o senhor tivesse ficado. Mas se os seus amigos também ficaram, isso quer dizer que foram poucos os malucos que fugiram! Quantos desses amigos invisíveis estão escondidos por aí? – quis saber ela.

– Uns 254... acho! – respondeu.

– Ufa... você não sabe a alegria que essa sua notícia me trouxe ao coração.

O louco estranhou a resposta da moça, nunca ninguém tinha acreditado sobre seus amigos invisíveis. Então, perguntou:

– A senhora é paciente nova?

– O quê? – espantou-se a moça.

– Eu já desconfiava. Lembre-se: eu sou louco e não burro. Eu pego as coisas no ar facilmente. Depois, se a senhora quiser, eu te mostro a minha coleção de mosquitos e outros bichos que voam! Eu sou ótimo em pegar coisas no ar!

A mocinha se irritou. Olhou para o doido como se quisesse matá-lo! Mas conseguiu se conter dizendo:

– Por que você não volta a brincar de esconde-esconde com os seus amigos?

– Brincar com quem, dona?

– Com os seu amigos invisíveis! Aqueles com os quais você estava brincando no momento em que cheguei...

– Eu, hein! – falou consigo mesmo o doido – Aqui aparece cada louco! Acho melhor eu sair de perto, isto pode ser contagioso!

Discretamente, ele foi se afastando da mocinha. Estava com cara de assustado, ou melhor, ele tinha entrado em pânico. Pegou ligeiramente um estilingue de sua cintura e com uma voz heróica, bradou:

– Para trás, seu monstro! Eu estou armado com esse negócio aqui! Eu não sei o que é, mas aviso logo: eu sei usar. Para trás, seu monstro gigante e imundo!

A moça obedeceu! Foi se afastando para trás cada vez mais. Por sorte, ela estava de costas para a porta do manicômio. Por azar, só soube disso ao rolar a escadaria da portaria abaixo. Novamente por sorte, o tombo a tinha levado para a rua! Foi só levantar e correr para o outro hospital, o hospital de gente normal.

Entrou correndo à procura de seus colegas enfermeiros. Ao encontrá-los na sala de espera, tentou explicar toda ofegante os problemas que tinha tido no manicômio. Mas não foi possível... Quando o médico que atendeu ao diretor entrou na sala, todos miraram seus ouvidos para suas palavras. A moça desmaiou ao ver o médico. O médico, com uma cara séria, olhava para os outros enfermeiros. Os enfermeiros já pensavam no pior!

De repente, o médico abriu um grande e amarelo sorriso. Aquele era o sorriso mais sincero que alguém ali já tinha visto. Os enfermeiros já não pensavam mais no pior.

– Tenho uma notícia a dar. – disse a voz suave do médico. – O paciente está bem! Ele está muito bem! Ou melhor, ele está muito, muito bem! Está melhor que todos nós!

Os que estavam na sala de espera, respiraram aliviados. E o médico continuou:

– Tenho certeza que ele está em boas companhias. Afinal, ele está em um lugar onde tudo é melhor: ele está no paraíso! É isso... o diretor passou dessa para uma melhor! Foi difícil, mas eu consegui fazer isso sozinho!

Após dar a notícia e dar a si mesmo o mérito do feito, riu e foi atender um outro caso que chegava naquele instante.

Eduardo Franciskolwisk

Sem idade para entender

Não importa a idade que tenham, as pessoas sempre têm algo em suas vidas que ainda não entenderam.

Só para destacar: minha avó se chama Anna. Anna com dois Ns (Viu? Não vão errar depois!). Mas ela atende também por Dona Anna e pela sua variante: Don’Anna.

Era finalzinho de maio, dia do meu aniversário. Como sempre acontecia, fui a casa de minha avó buscá-la. Eu fui a pé, mas voltei de Ferrari. Isso mesmo, a minha avó tem uma Ferrari! E, como sempre acontecia, fui eu quem dirigiu o carrão.

Em inverso à alta velocidade, na primeira esquina, já viramos na contramão. Três quarteirões depois, havíamos chegado no destino. Primeiraminto, pusemos o carro na garagem. Segundamente, o colocamos dentro de casa; para ser mais exato, na sala de televisão.

Estávamos sozinhos, ela sentada na Ferrari e eu sentado no sofá. De repente, ela me perguntou:

– Sabe o que o frio dessa noite me fez?

– Não, vó – respondi. – O que o frio dessa noite te fez?

– Fez com que eu entendesse uma coisa!

Nesse momento, ela se ajeitou, sentando-se um pouco mais confortavelmente e começou a contar uma história:

– Quando eu tinha uns 6 ou 7 anos, meu pai, em todas as noites frias, pedia-me um favor. Então, todos os dias, após o jantar, eu pegava dois tijolos e os embrulhava em uma flanela. Naquela época, ainda usávamos o fogão à lenha. Por isso, quando a comida estava pronta, tirávamos a lenha que ainda poderia ser utilizada. E assim, no fogão só restavam as brasas. Eu pegava os dois tijolos embrulhados na flanela e os colocava na frente do forno. Depois de algum tempinho, eu ia lá de novo e virava os tijolos. Desta forma, os dois lados dos tijolos ficavam aquecidos. Na hora de dormir, eu punha os tijolos no pé da cama do meu pai, conforme ele havia pedido. Porém, nunca entendi o motivo pelo qual eu fazia aquilo.

Ela, novamente, ajeitou-se na cadeira, sentando-se em outra posição e continuou:

– Só que nesta noite, nesta noite sim, eu entendi porque todas as noites meu pai me pedia aquele favor. Sabe? Nesta madrugada, eu acordei e senti um enorme frio nos pés! Nossa, meus pés estavam congelados! Imediatamente, veio-me na cabeça os tijolos embrulhados na flanela e aquecidos diante do fogão à lenha. Então, entendi tudo. Meu pai não conseguia dormir com os pés gelados. Só a coberta não era suficiente, por isso, em todas as noites frias, lá estavam os tijolos aquecidos em seus pés. Ele colocava os pés perto dos tijolos para esquentá-los e só assim conseguia dormir.

A história da Dona Anna acaba aqui. Mas ela vai muito mais além dentro da minha cabeça. Minha avó tem 80 anos e só agora foi entender o que lhe acontecia quando tinha 6 ou 7 anos de idade. Contando-me isso, minha avó me fez entender que:

A sua idade não importa. Algumas coisas você entende facilmente. Outras, você demorará muitos anos para entender. E outras, você nunca entenderá.

Eduardo Franciskolwisk

Sem idade para crescer

Não importa a idade que tenham, as pessoas sempre têm algo para aprender e para ensinar.

Em janeiro de 2004, conheci Cabo Frio – RJ. E, sinceramente, não gostei muito. A água me fazia pensar duas vezes antes de entrar no mar. Cabo Frio não se chama Cabo FRIO à toa, mas sim porque a água é extremamente gelada.

Mesmo assim, eu não saía da praia. Fizesse sol ou fizesse chuva, eu estava lá! Por isso, posso dar esse conselho. Quando você for a Cabo Frio (na Praia do Forte) reze para que chova bastante! Não sei o porquê, mas quando chove a água de lá fica uma delícia!

Todavia, o importante deste texto, começo agora.

Em um dos dias, sentados sob o guarda-sol, eu e uma amiga vimos umas três crianças que pareciam pegar diamantes quando as ondas estouravam na praia. Tínhamos a certeza de que não eram conchinhas, porque a algazarra não seria tanta!

Como não sou nada curioso... nem um pouquinho! Falei “Vamos lá ver o que eles estão fazendo?” e ela concordou. Ao chegarmos perto, continuei sem saber de nada. Quando uma onda estourava, eles olhavam para a areia e de repente corriam para um certo ponto. Nesse lugar, eles cavavam até achar o que procuravam. E eu ainda não via nada! Nadinha.

Então, resolvi perguntar! Cheguei perto de uma menina de, sei lá, uns 6 ou 7 anos (Observação: é bom lembrar que sou péssimo em acertar a idade das crianças só pela aparência.) e perguntei: “O que vocês estão catando?” e ela respondeu “Bichinho!”.

“Mas que bichinho? Não estou vendo nada...”

Aí, ela me explicou: “Mas você tem de ser rápido, porque eles vêm com as ondas e se enterram rapidinho na areia.”

Eu nunca tinha visto um bicho desses e pedi para que ela me mostrasse um. Aí, ela pegou, com um menino, uma garrafa de água mineral descartável. A garrafa estava com areia até a metade e tinha água o suficiente para que a areia ficasse sempre molhada. Então, a menininha deu um chacoalhão, tapando a boca da garrafa com as mãos e me mostrou. Agora dava para ver os bichinhos.

Acho que ela percebeu que eu não estava muito satisfeito, pegou um de dentro da garrafa e me deu para segurar e ver como ele era.

Só que eu estava indignado e me perguntava “Como eu não vejo esse bicho na areia?” e ela respondeu “É que você tem que prestar muita atenção. Quer ver? Eu te ensino a pegar.” E ela ensinou mesmo. Em pouco tempo, eu já estava craque! Quando percebi, eu já estava no meio de um monte de crianças catando bichinho. “Eu vou levar para casa e dar de presente para a minha tia!”, contou ela. Toda hora parava uma ou outra pessoa para saber o que estávamos fazendo, ou para conhecer o animal.

Ninguém ali sabia o nome do “cava-cava”, então, demos esse apelido para ele. Porém, quando voltei para Barretos, fiquei com aquilo na cabeça. Procurei em vários livros de biologia, mas nunca achava nada. Só em agosto eu me lembrei de que “Quem tem boca vai a Roma”. Entrei em sites sobre biologia e mandei e-mails, descrevendo e pedindo ajuda para identificar o bicho. Recebi várias respostas! E as comparei com livros e fotos.

O nome dele é tatuíra (mas também é conhecido como pulga do mar, tatuí, tatu d’água, etc). É um animal muito comum nas praias brasileiras, mas é difícil percebê-los. Quando trazidos pelas ondas, entram em contato com a areia recém-molhada e se enterram com muita rapidez. Ele é parente do camarão, ou seja, é um artrópode crustáceo. Em algumas regiões, as famílias pobres os comem fritos porque têm alto valor nutritivo. Eles também são usados como isca para a pesca.

Assim como eu não sabia o nome do “cava-cava”, eu não me lembro do nome da menina. Só sei que eu, na época com 20 anos (agora 21...), aprendi com uma garotinha de 6 ou 7 anos! E não tenho vergonha disso. Meus conhecimentos aumentaram! Eu cresci!

A sua idade não importa. Ninguém sabe tanto que não tenha o que aprender. Todo mundo sabe algo que pode ensinar. Não tenha preconceito, converse com crianças e idosos e você se surpreenderá.

Eduardo Franciskolwisk

De Deus veio o Mateus

Quando menos se espera, a vida toma um rumo diferente. Um dia igualzinho aos outros pode, em questão de segundos, transformar-se em um dia inesquecível.

A minha sexta-feira, dia 26 de março, foi um dia desses. Até às 6:00 da tarde, eu levava a vida como você, meu leitor, está levando até este momento: Normalmente. O caminho entre o meu estágio e a minha casa é curto, mas as coincidências que nele aconteceram virariam histórias longas se eu pudesse contá-las aqui.

Ao chegar em casa, havia no meu quarto um bilhete que dizia “Edu, o nenê já vai nascer. Fui na Kaká, tome banho rápido que eu já volto. Mamãe”. Aí, eu já comecei a ficar desesperado. Pronto, era certo que aquele não ia ser um dia normal. Eu não parava de me perguntar “Mas como? Como ele vai nascer agora? Ainda falta um tempão para ele nascer...”.

Quando a minha mãe chegou em casa, eu estava tentando tomar banho rápido. “Vai para o hospital depois, que eu estou indo agora com o Danilo e com a Kaká”, disse ela. Eu apressei o banho e logo também estava no 1º andar da Santa Casa. Foi eu chegar para minha mãe voltar para casa. Ela voltou para buscar cobertor, travesseiros e outras coisas.

Enquanto isso eu fiquei conversando com o Danilo, que me explicou a história direitinho:

– Dudu, hoje de manhã, fomos ao médico e ele disse que daqui três semanas o bebê nasceria. Aí, eu e a sua irmã fomos terminar de comprar algumas coisas para o quarto do bebê e lá pelas 5:30 da tarde eu vi uma mancha de água no vestido dela. Eu falei isso pra ela. Quando ela se levantou, o banco do carro estava todo molhado. A bolsa tinha estourado! Imediatamente voltamos ao médico, só que dessa vez ele disse “Vai ser hoje mesmo...”.

E pra falar a verdade, não foi só o Mateus que nasceu naquele dia. Aquela maternidade estava lotada. Lá tinham muitas pessoas, mas eu tenho certeza que só eu tive o privilégio de uma coisa. Quando a minha irmã já tinha entrado na sala de operação, fomos para o quanto onde ela ficaria, o de número 128. Então, eu me sentei na cama do quarto de frente para a minha mãe e, acidentalmente, de frente para a janela. Conversa vai, conversa vem, barulhos começaram. Olhei para a janela aberta e vi um show de fogos de artifício. Desses que chegam lá em cima e explodem ganhando cor e a forma de uma círculo. Tinham também rojões, claro.

Para muita gente, isso não passou de fogos de artifício. Porém, para a nossa família aquela era a chegada do nenê. Aquilo era Deus, mandando de presente o Mateus.

Com isso, a minha mãe virou avó, o Danilo virou papai, a Karina virou mamãe. Eu e a Paula, ao contrário do que muita gente está dizendo, não ficamos para titio e titia, ficamos, respectivamente, para padrinho e madrinha.

Mateus Machado Borges promete muito. Afinal, não é todo mundo que chega no mundo que tem direito a um espetáculo como ele teve.

No dia 29 de março, três dias depois, nasceu a Giulia. Filha da minha prima Giovana. Mas é assim mesmo, a gravidez é igualzinha a vida: quando você menos espera, ela toma um rumo diferente. E apenas alguns momentos, como um nascimento, pode fazer do seu dia normal, um dia inesquecível.

Eduardo Franciskolwisk

Por que um mandruvá atravessa a rua?

Por que uma galinha atravessa a rua? Com certeza, todos sabem que é “para chegar ao outro lado”. Mas por que um mandruvá atravessa a rua?

Mandruvinha era o apelido do filho mais velho do casal mais famoso daquela cidade. O casal de mandruvás já não existia mais. Ninguém sabe o que lhes aconteceu. Aliás, nunca se soube do que acontece com os mandruvás numa certa idade. Eles, simplesmente, desaparecem!

Mas a memória é feita para ocasiões como estas. A memória é feita para resgatar o passado; tornado-o, de novo, presente; para que seja mais fácil enfrentar o futuro. A cabeça desse mandruvá não era muito diferente da nossa. Ele também tinha recordações.

Momentos antes de atravessar a rua, Mandruvinha se lembrava do que seu pai dizia:

– Mandruva Filho, preste atenção no que eu digo. Um dia você vai ter de escolher entre o fácil e o difícil. Escolha o difícil porque a longo prazo é o caminho mais fácil. Se você escolher o fácil, lembre-se de que, com o passar do tempo, o caminho ficará mais difícil. A decisão é sua, mas... Arrisque-se!

Acordando de seus pensamentos, olhou a rua. Muitos carros passando, muitas buzinas fazendo barulho. Às vezes, aparecia uma ou outra bicicleta e mais raramente, uma carroça. E olhando todo aquele movimento, novamente mergulhava em seus pensamentos.

– Mandruva Filho, ouça o que eu digo. Um dia você vai ter de fazer o que é certo ou o que é errado. Faça o que é certo porque, simplesmente, é o correto a ser feito. Se você fizer o que é errado, não tem problema, mas só faça isso se você achar que é o correto a ser feito. De vez em quando, é bom nadar contra a correnteza. A decisão é sua, mas... Arrisque-se!

Realmente passavam muitos carros ali.

– É praticamente impossível para um mandruvá como eu atravessar a rua com todos esses carros passando – pensava ele.

Mas era só prestar atenção nas dificuldades que estavam diante dele que Mandruvinha se recordava das palavras do pai.

– Mandruva Filho, escute-me. Um dia a sua vida vai estacionar ou vai andar de marcha a ré. Se estacionar, você não estará em desvantagem. Porém, também não estará em vantagem. Se estiver andando para trás, será necessário que você tome providências. Em todos os casos, a decisão é sua, mas siga o conselho deste velho aqui: Arrisque-se!

– Este lado da rua – dizia Mandruvinha para si mesmo – já não me deixa feliz! Quero muito conhecer o outro lado. Lá pode ser muito melhor que aqui... Mas também pode não ser...

O pequeno mandruvá olhou para a extensa rua a qual queria atravessar. Olhou os inúmeros carros que passavam; as motos e as bicicletas. Sentiu um friozinho na barriga, mas mesmo assim decidiu “Arriscar-se” como lhe pedia o seu pai.

Quando estava quase chegando ao outro lado da rua, uma bicicleta veio em alta velocidade para cima de Mandruvinha. Ele não pôde fazer nada! A bicicleta podia e desviou dele.

Hoje, ele é um outro mandruvá. O outro lado da rua fez muito bem para ele. Casou-se e teve uns pares de filhos que já estão crescidos. Ele já está naquela idade especial para um mandruvá. Aquela idade em que eles, simplesmente, desaparecem.

Por que um mandruvá atravessa a rua? Para chegar ao outro lado. Aqueles que não se arriscam nunca se dão mal, muito menos se dão bem. É assim que funciona. Arrisque-se!

Eduardo Francisskolwisk

O garoto e as três bolas de sorvete

Esta história aconteceu num verão. Num lugar onde até o inverno chega a ser quente. O calor estava demais. Tanto dentro como fora de casa, parecia que tudo iria se derreter. Mas para qualquer garoto da idade dele, aquilo tinha uma solução:

– Vovó, me dá sorvete?

– Sabe que você teve uma boa idéia? Vamos para a cozinha. Além de ser o lugar mais fresco da casa, no congelador tem bastante sorvete.

O neto da senhora mal acabou de escutá-la e já estava sentado na mesa da cozinha. Já a avó, demorou um pouco mais, pois a idade já não a deixava ser tão rápida.

– Vó, hoje, que está muito quente, eu posso tomar três bola de sorvete?

Ela o olhou como se fosse negar o pedido e o garoto logo deu mais um argumento a seu favor:

– É que lá no congelador tem três sabores de sorvete. E eu queria muitíssimo uma bola de cada. Pode ser assim? Deixa vai!

– Deixo. Mas só por dois motivos: um é por causa do calor e o outro é porque você comeu tudo no almoço.

A avozinha colocou num copo d’água as bolas de sorvete que o neto tinha lhe pedido. Uma de chocolate, outra de flocos e a outra que se chamava Barba Azul, um sorvete que era novidade para ela porque tinha cor azul.

Entregou o copo para o neto com uma colher meio velha. Quando ia se sentar à mesa, o telefone da sala tocou. E ela disse:

– Eu já volto, querido. Vai tomando o seu sorvete enquanto eu vou atender o telefone.

Quando o garoto ia colocar a primeira colherada de sorvete na boca, pensou:

– Esta colher está um pouco velha, acho melhor eu procurar uma mais bonita.

Levantou-se e na gaveta em que estavam as colheres, escolheu a que mais combinava com o seu gosto.

De novo sentado na cadeira, ia levando a primeira colherada de sorvete à boca, mas parou no meio do caminho e pensou:

– Onde será que está o pano? Tenho que limpar essas gotas de sorvete que caíram da minha colher na mesa.

Levantou-se e logo achou o pano e com ele limpou a mesa. Quando ia se sentar, viu que uma gotinha do sorvete tinha caído em sua camiseta e pensou:

– Puxa, quase que eu não vi esta gota na minha camiseta. Melhor eu limpá-la agora para que, depois, eu possa tomar meu sorvete sossegado.

E assim ele fez, limpou a camiseta. Só que quando terminou, percebeu que a avó não tinha jogado o lacre do sorvete no lixo e pensou:

– Tão perto de mim e eu já ia deixando de perceber. Não me custa nada jogar essa sujeira fora para poder tomar meu sorvete em paz.

O garoto amassou com as mãos o lacre do sorvete e também a embalagem de papelão. Foi até o lixo, jogou tudo fora e voltou correndo para a mesa.

Acomodou-se na cadeira, mas só depois pensou:

– Isso não está certo! Não lavei as mãos. De mãos sujas não poderei saborear o meu sorvete.

Levantou novamente, lavou as mãos e voltou correndo para se sentar à mesa. Agora sim, tudo estava perfeito.Agora sim, ele poderia tomar sorvete. Então, ele pegou a colher com uma mão e o copo com a outra. Só que o sorvete já havia derretido.

A avó, sabendo do perfeccionismo do neto e vendo sua tristeza, lhe disse:

– Querido, se você tentar fazer com que tudo seja sempre perfeito, ficará sempre triste. Saiba que algumas coisas não precisam ser perfeitas, precisam apenas ser aproveitadas. O que você acha de aproveitar agora um sorvete com três bolas?

Eduardo Franciskolwisk

O Mistério do Ladrão de Coração

Quando tudo parecia estar perdido, ele estava lá para achar. Quando todos iam para a esquerda, ele se direcionava para a direita. Quando o mundo não via o principal, ele o enxergava. Ele era um detetive. O melhor de todos!

Ontem, às 5 horas da tarde, chegou em seu gabinete superultra-secreto que, segundo os jornais e os painéis eletrônicos, ficava na Rua Misteriosa, nº 15, um homem gordo, vestindo terno preto com um chapéu branco.

– Eu poderia falar com o Detetive, senhorita Bárbara? – perguntou o gordão para a secretária do Detetive.

– Claro, seu Bartolomeu! Sua visita era esperada e ele já está pronto para recebê-lo. Acompanhe-me!

E o homem de preto a acompanhou.

– É nesta sala, o senhor pode entrar!

– Obrigado, Bárbara.

Depois de agradecer e antes de entrar, o homem pensou um pouco e perguntou para a linda senhorita:

– Bárbara, você gostaria de fazer algo hoje a noite?

– Gostaria sim, mas não com você! Desculpe a sinceridade, mas não com você!

O homem disse que tinha entendido, porém, entrou cabisbaixo. Logo, foi recebido de maneira calorosa pelo detetive que, apontando um revólver para sua cabeça, gritou:

– Não se mova, sua bola de carne ambulante! Isso daqui é um revólver e se eu apertar este botão você estará morto.

– Não me encha o saco, Detetive! Temos um caso especial que precisa ser resolvido até amanhã.

– Ora, ora, Bartolomeu! Adoro mistérios. Vamos, conte-me logo o que terei de fazer.

– Há um homem que rouba o coração da minha amada sua secretária Bárbara. Quero que a cabeça dele role igual...

– Igual você rolou aquele dia que caiu numa ladeira? – interrompeu o Detetive rindo.

– Não! – continuou o gordo. Igual a uma bola de boliche em direção aos pinos para derrubá-los!

– Bem, neste caso o preço será caro.

– O preço não importa. Descubra quem é ele e mate-o!

– Tudo bem, começarei a trabalhar agora mesmo.

O gordo, já indo embora, voltou-se e falou:

– Antes que eu me esqueça: há outro detetive nesse caso. Portanto, o melhor fará o trabalho e receberá o dinheiro.

– Eu sou o melhor, já se esqueceu disto? Sou capaz de tudo para manter o meu posto!

Bartolomeu fechou a porta. E Bárbara foi chamada pelo chefe:

– Me chamou, chefinho lindo?

– Sim, precisamos conversar!

– O senhor vai me mandar embora? – perguntou a moça desesperada.

– Não, quero saber se posso ir jantar na sua casa hoje!

– Hoje...? Hum... tudo bem! Você vai conhecer o meu gatinho.

Depois de tudo combinado, e já na ausência da senhorita Bárbara, o Detetive pensou:

– O namorado dela vai estar lá! Vai ser muito mais fácil do que eu tinha imaginado!

O tempo passou e já estava na hora do patrão chegar em sua casa. Ela estava linda. Tinha de estar assim porque o ladrão do seu coração estaria em sua casa naquela noite.

A campainha tocou!

– É o meu patrão, Arnaldo! Como estou nervosa.

A moça abriu a porta e sorriu. Cumprimentaram-se formalmente com um aperto de mão.

– Vamos entrando, Detetive. Quero que você conheça alguém muito especial!

Os dois foram para sala de jantar onde Arnaldo já os esperavam.

– Detetive, este é o Arnaldo. Arnaldo, este é o Detetive, o meu patrão.

A cena foi muito embaraçosa. Após serem apresentados, um olhava para o outro, mas nenhum sabia o que fazer e nem o que dizer. Bárbara, então, disse:

– Vamos rapazes, apertem as mãos!

– Miau! – exclamou Arnaldo.

– Como vou apertar a mão de um gato, Bárbara? Pelo menos deveria ter dito para que eu lhe apertasse a pata!

– Desculpe-me, Detetive. Não disse por dois motivos: o primeiro é que Arnaldo é uma pessoa dentro dessa casa e segundo, achei que você descobriria que ele é um gato. Afinal, você é um detetive.

Um pouco frustrado, o Detetive começou a bolar outro plano. Pensou em descobrir o nome do ladrão de coração simplesmente perguntando para ela, através da grande amizade que tinham.

Conversaram bastante e, inclusive, o Detetive ficou sabendo que Arnaldo era um gato bonzinho e fiel. Somente durante o jantar, o plano entrou em ação.

– E os namorados, Bárbara? Você está saindo com alguém?

A senhorita engasgou com o suco que tomava, e depois de recomposta, respondeu:

– Não... Infelizmente não. Mas já que você tocou no assunto, terei de dizer o que sinto por você hoje. Eu sou apaixonada por você desde o dia em que comecei a trabalhar no seu gabinete superultra-secreto.

Agora, quem engasgou foi o Detetive. A moça, muito nervosa, quis saber depressa:

– Então, nós temos chances?

Mais uma vez ele engasgou. Pouco tempo depois, ia dirigir a palavra à moça, mas Arnaldo lhe avançou no rosto.

– Pára, pára, Arnaldinho! – gritou Bárbara.

O gato nem ouvia, só continuava a atacar cada vez mais forte. Mordeu-lhe o pescoço várias vezes, saía muito sangue. Parou quando o detetive caiu no chão e, depois, fugiu pela portinha que existia na porta da cozinha.

Bárbara chamou a ajuda médica para o amado que estava estendido. A ajuda chegou tarde demais e o detetive morreu.

A notícia logo se espalhou e por isso chegou muito rápido nos ouvidos do gorducho Bartolomeu. Ele fez o telefone de Bárbara tocar!

– Alô!

– Bárbara? Aqui é o Bartolomeu. Sinto muito pelo que aconteceu. Gostaria de saber se posso ajudar em alguma coisa.

– Não, muito obrigada! Se eu precisar, te telefono.

– Tudo bem... Agora me diga, onde está o seu gato?

– O Arnaldo?

– Sim, ele mesmo!

– Foi ele quem matou o Detetive! Ele fugiu!

– Eu já sabia, querida Bárbara. Você pode fazer um favor para mim? Já que você não me quer!

– Eu ainda estou bastante chocada pelo ocorrido, mas se for possível farei!

– Obrigado! Se o Arnaldo aparecer por aí, diga-lhe que ele fez um bom trabalho.

Bárbara arregalou os olhos. Tentou gritar alguma coisa, mas só o que ouvia agora era o tu-tu-tu-tu do telefone.

Eduardo Franciskolwisk

Uma Grande Cachorrada

Um certo dia, andando pela rua, vi um cachorro na calçada do lado de lá, por isso, atravessei a rua. À medida que me aproximava, o cachorro ia abanando o rabinho cada vez mais forte. Parei diante de seus olhos, abaixe-me um pouco e passei minhas mãos em sua cabeça. Logo veio o agradecimento:

– Au, Au! Au, Au!

Então, eu lhe disse:

– Desculpe-me, meu amigo, mas eu não falo latim!

– Ah... que peninha. Como conseguiremos conversar? – perguntou-me o cão.

– Eu nem imagino! Temos de nos comunicar através de uma língua que nós dois saibamos falar bem.

– É verdade... ¿Hablas español?

– Nem nessa e nem na minha outra vida!

– Deixa-me pensar...

Eu o interrompi:

– Já sei, acho que essa língua você fala. Parli italiano, cane?

– Não, infelizmente não falo! Falemos français?

– Nem se eu fosse o Napoleão.

– Nossa... você é um homem bem burro. Não fala língua nenhuma.

Nessa hora eu fiquei bravo. Eu não sou burro. E eu sei disso. Então, quis esnobar e falei:

– Deutsch?

– Nana, nina, não! – disse o cãozinho.

Nós dois fizemos cara de desânimo. Sabíamos que só tinha um jeito de resolver esse problema. Fui eu quem tomou a iniciativa dizendo:

– Bem, acho que o jeito é falarmos a droga do inglês.

– É verdade! Hoje, infelizmente, essa língua é “chique no úrtimo”.

– Saco...

Eduardo Franciskolwisk

A Guerra entre os três reinos rivais

Essa guerra aconteceu de verdade no fim do ano de 2002. Nunca, em nenhum momento da história, um desses reinos foi visto em combate; tanto entre outros, muito menos entre si. Na guerra desta história, porém, os três se confrontaram e foi por isso que ficou conhecida como “A Guerra entre os Três Reinos Rivais”.

Sempre houve uma amizade muito grande entre esses reinos, nunca foram rivais. Mas se tornaram e mais a frente saberemos o por quê.

A harmonia vivia em cada coração do Reino das Batatas. Essa terra era governada pelo Rei Batata V e pela Rainha Batatinha Quando Nasce VIII. Os súditos desses dois governantes eram muito trabalhadores. Alguns ganharam a vida no serviço de batata assada, outros, de batata palha. Mas a grande maioria trabalhava como batata frita mesmo. Devido a tanto trabalho, eram um povo rico e até a batatinha mais pobre podia nadar em catchup com recursos de seus próprios pais.

Bem, ali do lado do Reino das Batatas, vivam as cenouras. Esse reino, o Reino das Cenouras, era governado somente por uma cenoura, ou melhor, um cenouro. Houve uma época em que ele também tinha uma rainha, A Rainha Cenoura XVII. Dizem a más línguas que ela morreu porque se achava irresistível demais e que por isso o Rei mandou matá-la. Um dos empregados que conviviam com a família real conta a seguinte história: “A rainha era uma pessoa que se achava muito atraente. Todos os dias, ela perguntava para o rei ‘Cecê, você me acha irresistível?’ e ele respondia ‘Sim, querida, a acho’. E ela perguntava ‘Será que quando eu saio por esse mundo afora, todo o mundo fica com vontade de me comer?’ e o rei respondia ‘Bem, isso eu não sei.’. Depois de um tempo, cansado de ouvir da esposa ‘Você acha que todos querem me comer?’ o rei resolveu tirar a dúvida da cabeça da esposa e até mesmo da sua. Um dia, o rei chamou a rainha para passear ao ar livre pelos gramados do reino e de repente, um coelho a comeu. A dúvida tinha morrido e a esposa também... Mas o rei jura de pé juntos que não mandou assassinar a mulher.” Outra coisa importante para se dizer desse reino é que não tinham dinheiro nem para as cenourinhas estudarem. As cenouras trabalhavam em saladas, algumas carnes e sopas, mas não ganhavam o suficiente para viverem felizes. Por causa da falta de dinheiro, o Rei ficou conhecido como Rei Cen Ouro.

Do outro lado do Reino das Batatas, existia o Reino das Cebolas. Esse povo era muito esquisito. O rei era mais esquisito ainda. Ali naquele lugar, não existia nenhuma cebola inteira, só existiam Meias Cebolas. O próprio rei que ditou essa ordem era um Meia Cebola. Todos no reino entenderam a posição do Rei Cebola III de mandar cortar cada Cebola ao meio. É que a população das cebolas estava muito pequena e essa foi a solução que o inteligentíssimo rei achou para dobrar o número de súditos. A riqueza dos Meia Cebolas era muito maior do que a das Batatas. Além, de temperarem a comida e fazerem bicos em pizzas, ganhavam uma fortuna trabalhando nos filmes de Hollywood sempre que um artista tinha de chorar em cena. Esse era o segredo de tanto dinheiro no bolso dos Meia Cebolas.

Tudo era paz entre esses três reinos. Até o dia em que os dois soberanos das Batatas, o rei das Cenouras e o rei dos Meia Cebolas se reuniram para construir um plano que destruísse os humanos.

A Rainha Batatinha Quando Nasce VIII foi a única contra tamanha falta de consideração para com os humanos:

– Não creio que destruir os humanos nos leve ao controle do mundo. Por causa dos humanos é que nosso Reino das Batatas vive bem, com emprego para todos. Seríamos mal-agradecidos para com eles e isso só geraria sua ira contra todos nós.

O Rei Cenouro, lembrando-se de que seu apelido em seu próprio reino era Rei Cen Ouro, foi contra a opinião dela:

– Mas meu reino não tem dinheiro para nada. Os humanos somente nos exploram e não nos paga o quanto realmente merecemos.

– Eu também não tenho do que reclamar – falou o Rei Meia Cebola. – Nosso valor é reconhecido, muito bem reconhecido.

– Então, creio que o único que quer guerra contra os humanos é o Rei Cenouro. Não é verdade? Ele é o único que quer ocupar o lugar dos humanos? – perguntou a rainha para os demais sentados à mesa.

E ela não recebeu a resposta que esperava.

– Não, eu também quero o lugar dos humanos – disse o Rei Batata V.

– Eu também – concordou o Rei Cebola III. – Se possuímos tudo isso com os humanos nos explorando, imagine o que possuiríamos sem eles em nosso caminho!

– E é só assim que meu povo conseguirá alguma coisa para viver bem. Tudo o que conseguirmos será distribuído em partes iguais para os três reinos – comentou o Rei Cenouro.

Mas logo ouviu protestos da parte mais rica, ou seja, do Meia Cebola.

– Claro que não. Eu sou o mais rico e investirei mais em armamentos. Portanto, tenho de receber uma maior parte do que sobrar dos humanos.

A Rainha Batatinha Quando Nasce VIII, de repente, gritou:

– Não concordo com um ataque aos humanos. – e se levantou da mesa. – Vocês são gananciosos, querem mais do que os outros já dão. Para se fazer um ataque, é necessário pensar em suas conseqüências e se vocês fizerem isso, vocês morrerão. Podem até conseguir eliminar os humanos da face da Terra, mas é exatamente isso que vai nos eliminar pouquíssimo tempo depois. Temos de reconhecer o mérito dos outros, mesmo que isso nos incomode porque de uma forma ou de outras, somos dependentes deles.

A Rainha se dirigiu até a porta de saída, mas antes de ir embora falou:

– Não pensem vocês que somos insubstituíveis. Tudo será uma questão de tempo até que os humanos percebam que podem viver sem batatas, cenouras e cebolas. O caos chegará onde antes tinha prosperidade e onde não tinha, como no Reino das Cenouras, haverá depois de pior miséria, a extinção.

E ela voltou para o seu Reino.

Os que ficaram, não deram a mínima para as idéias da Rainha e decidiram atacar os humanos. Resolveram que cada batata, cenoura e meia cebola que fosse comida pelos homens, levaria consigo, na mão, um grande pedaço de veneno. Assim, homens, mulheres e crianças morreram em massa durante algumas semanas, até que os estudiosos descobriram o motivo. E o anunciaram em televisão, revistas e jornais: “Nunca mais comam batata, cenoura e cebola” e ainda complementavam: “Os mesmos serão substituídos por produtos sintéticos”.

Com o passar do tempo, nenhum humano comia nenhum daqueles três produtos. E isso gerou o que a Rainha tinha previsto: fome onde antes tinha fartura e extinção onde antes tinha miséria.

Vendo seu povo morrer, o Rei Cenouro, invadiu o Reino das Batata para roubar a riqueza do vizinho. Mas se deu mal, porque este já tinha formado um exército para atacá-los. As batatas tinham a intenção de invadir o Reino das Cenouras para escravizá-lo e comê-los, mantendo assim a sua riqueza para depois guerrear contra o Rei Meia Cebola.

No meio do confronto que envolvia a todos dos Reinos das Batatas e das Cenouras, com exceção da Rainha que era a única com o privilégio de ter ficado em seu palácio, o Rei Cebola III aparece com o seu arsenal incrível à disposição de suas meia cebolas.

Pedaços de batatas voavam para um lado, pontas de cenouras iam para outro e meia cebolas já eram agora um treze avos de cebola. Aquilo parecia um liquidificador. As cenouras já estavam extintas, nenhuma sobrou para contar história ou para aparecer em fotos com o coelhinho da páscoa. A guerra continuou entre as batatas e os meia cebolas, mas não durou muito tempo. As batatas foram definitivamente derrotadas, era o fim das batatas fritas. Os vitoriosos seriam os meia cebolas. Mas não foram. Depois de acabada a luta, um deles utilizou o seu meio cérebro de meia cebola para apertar um botão cuja finalidade não conhecia. Bum! E tudo foi pelos ares, morrendo todos os meia cebolas. Não sobrou ninguém, nenhuma batata, nenhuma cenoura e nenhuma meia cebola.

Bem, pensando bem sobrou sim! Sobrou a Rainha Batatinha Quando Nasce VIII. Esta já conhecia o final da história muito antes de acontecer e certo momento disse para si mesma

– Reconhecer o mérito dos outros e a ajuda que eles nos dão não é motivo para se sentir humilhado e inferior. É motivo de honra e agradecimento. É motivo para se criar em cima do que já se tem e não destruir.

Segundos depois, uma menininha passou pelo Reino das Batatas com sua mãe e disse:

– Veja, mamãe! É uma daquelas coisas que mata a gente se a gente comer!

A mãe observou bem a batata e disse:

– Você tem razão, filhinha....

E interrompendo a mãe, a menina avisou:

– Eu vou matá-la, antes que ela me mate!

Eduardo Franciskolwisk

O desentendimento na boate

Era um sábado de noite quando dois amigos resolveram ir à boate mais barulhenta da cidade. Arrumaram-se a ponto de chegar ao impecável e 15 minutos depois, eles já estavam lá.

Ali, do lado de fora, a comunicação já tinha se tornado um pouco difícil devido à altura em que estavam tocando as músicas.

– Me dá aqui o seu dinheiro que eu vou comprar os ingressos - disse um deles.

– Que? – respondeu o outro. – Fala mais alto que eu não escutei nada.

O primeiro repetiu, porém, desta vez, com uma voz mais potente:

– Eu disse que é para você me dar o seu dinheiro que eu compro os ingressos para nós dois. Entendeu?

– Ah... Agora sim, eu entendi! Pega aqui. – e ele deu para o amigo o valor da sua entrada.

Pronto, tudo estava certo.

– Só o que falta agora é entrar, não é verdade? – falou bem alto o que cuidou da compra.

– O que estamos esperando? Vamos lá! – disse mais alto ainda o outro.

Lá dentro, como era de se esperar, ninguém escutava nada além da música que não parava um segundo de tocar. Era impossível que duas pessoas se entendessem. Mas os nossos dois conhecidos não sabiam disso e por isso tentaram de qualquer forma conversar aos berros.

– Eu vou ao banheiro!

Sem entender nada, a curiosidade do outro perguntou:

– Que?

Mas o primeiro também não entendeu nada desse simples “que?”. E nessa hora, quem ficou curioso foi ele. Quis saber o que amigo havia falado:

– O que você disse? – gritou o mais alto que pôde.

Apesar de o amigo estar olhando para ele, não foi possível entender praticamente nada. A única coisa que entendeu, ou achou entender, foi a palavra “tia”. Ou seja, ele estava realmente perdido.

O mais inteligente deles teve uma maravilhosa idéia. Depois de quase exatamente 45 minutos de puro “– Que?”, “– Ãh?”, “– Como é que é?” uma maravilhosa idéia nasceu em sua cabeça.

Não estranhem pelo ressalto que a inteligência dele teve. Até porque é de se estranhar que alguém inteligente demore tanto tempo fazendo uma coisa tão inútil. O fato é que eu não disse que ele era inteligente, só disse que era o mais inteligente dos dois. Sempre haverá alguém com mais inteligência que os demais, inclusive quando essa comparação ocorre somente com gente burra.

A idéia era levar o amigo para fora da boate, em um lugar que fosse fácil o diálogo. Então, começou a colocá-la em prática. Fez vários sinais para que o companheiro saísse daquele local barulhento.

– O que você queria dizer? – insistia o que estava sendo levado para fora da boate.

Todavia, o outro não entendia nada, o que lhe aumentava muito a curiosidade.

– Fala o que você quer logo. Onde você está me levando? – repetia o mesmo.

Nenhum dos dois se escutavam. Talvez, por perceberem isso, pararam de tentar uma comunicação até chegarem ao lugar onde fazer isso seria possível.

– Pronto. Agora que já saímos da boate, que já estamos em um lugar onde dá para conversar, me diga, o que você tinha me falado?

Seu amigo estranhou a pergunta, afinal de contas, era ele quem tinha algo para dizer. E disse:

– Eu? Eu não. Foi você que começou a conversa.

– Eu disse que ia ao banheiro, mas depois disso você disse algo complicado. O que era?

– Eu não falei nada. Apenas não tinha entendido que você ia ao banheiro.

– Então, você não quer me falar nada?

– Não.

– Que droga, eu te trouxe até aqui porque estava muito curioso para saber o que você queria dizer e era tudo mal entendido?

– Era.

– Faz um tempão que eu estou aqui apertado, querendo fazer xixi...

– Então, porque você não pára de falar e vai ao banheiro?

– Vamos voltar para a boate e lá eu vou.

– Vamos!

Quando novamente estavam na porta da boate, os seguranças os barraram! E eles, os garotos, exigiram uma explicação. Por causa do barulho alto e já prevenidos, os homens levantaram uma placa que dizia.

– Para entrar na boate, somente com ingressos.

Os dois amigos se olharam, olharam e olharam. E sem trocar uma só palavra, chegaram à conclusão de que queriam era mesmo voltar para casa. Com raiva, mas voltar para casa.

Eduardo Franciskolwisk

Uma incrível coincidência

Esta história aconteceu quando eu era pequeno, mas não muito! Eu me lembro bem do que aconteceu porque a coincidência dos fatos não me deixa esquecer. Foi com Chevette, um carro velho pra burro.

Toda criança que vai a um supermercado não consegue sair de lá sem dizer:

– Mãe, me dá isso?

– Mãe, compra aquilo?

Pois é, eu também não conseguia. E insisti tanto, mas tanto que ela se irritou! Estava muito brava comigo. Por infelicidade, tínhamos o costume de ir a vários supermercados para saber onde estava mais barato e eu já a havia irritado no primeiro.

Eu saí de lá fazendo biquinho porque eu estava magoado. E saí sem o que eu queria comprar. Fomos, então, para outro supermercado. No caminho, percebi que tinha caixas de fósforos no porta-luva e as peguei. Minha mãe viu, mas não disse nada.

Chegamos ao outro supermercado. Era bem menor que o outro, não tinha nem estacionamento próprio, por isso paramos bem em frente da porta de entrada.

Olhei para ela com as caixas de fósforo na mão, mas não disse nada. Ela abriu a porta do carro para sair e eu abri também. Ela não gostou nadinha da história de que eu também entraria no supermercado. E falou de modo bem bravo:

– Eduardo, entra no carro e não saia daí por nada nesse mundo! Eu estou mandando!

Eu, como era só um pouquinho bobo, voltei na hora! Nem retruquei nem nada! Imediatamente, comecei a brincar com as caixas de fósforos fingindo que não estava nem aí para o mundo. Porém, acho que ela estava. Antes de entrar no supermercado avisou:

– Se você acender algum palito de fósforo, você não sonha o que vai acontecer com você.

Ela deixou bem claro, também, que se eu fizesse aquilo, o carro poderia pegar fogo. Por isso não era para acender. Depois disso, foi fazer tranqüilamente suas compras.

E eu lá, tranqüilamente esperando!

A armadilha do destino tinha sido armada. Minha mãe estava brava comigo, eu não podia sair do carro em hipótese alguma, não podia acender nenhum fósforo. Estava dentro daquele carro só pensando na vida.

De repente, de uma hora para outra, começou a sair fumaça pelos buracos que existiam no volante. Eu arregalei os olhos e fiquei desesperado. Achei que minha hora tivesse chegado. Se o carro estivesse pegando fogo eu morreria queimado porque eu estava proibido de sair dali.

Eu não sabia o que fazer. Como estava saindo fumaça do carro, sendo que eu não tinha acendido nenhum palito de fósforo? Como? O que pensariam de mim? Todos achariam que eu tivesse posto fogo naquele carro. E, no entanto, não tinha feito nada.

Abri os vidros e comecei a gritar por socorro. E quem disse que alguém dava bola para mim? Ninguém... Só depois de meia hora é que minha mãe apareceu por causa dos meus gritos. E pensei:

– Agora é que ela me mata! Eu estou com a caixa de fósforos na minha mão, está saindo fumaça desse buraco e ela não vai acreditar que eu não sou o culpado.

– O que aconteceu? – quis ela saber.

– O carro está pegando fogo, está saindo fumaça daqui de dento – apontei para o volante e olhei para ela. – Eu juro que não acendi nenhum fósforo...

– Eu sei... esse carro solta essa fumaça de vez em quando! Já aconteceu comigo

Aí, eu fiquei mais aliviado.

– Por que você não saiu do carro? – quis saber novamente.

Eu respondi:

– Porque você me mandou não sair por nada deste mundo!

E tudo foi resolvido. Meu susto não passou de simples coincidência. E que coincidência...

Eduardo Franciskolwisk

O meu pé Real de dinheiro

Eu tenho, no fundo da minha casa, um pezinho de dinheiro! Todos os meses, essa plantinha dá o seu fruto Real. Mas, aqui em casa, esse fruto real está mais para o imaginário mesmo. Todo santo mês, nós temos de, em vez de colher os frutos verdes, agüentar os frutos vermelhos. E como são amargos estes últimos! Só quem já os experimentou conhece a sensação horrível.

Para dizer a verdade, acho que não sou o único que tem um pé desses no quintal. Acho que todas as famílias têm uma igualzinha à minha porque se não a tivessem como iriam sobreviver?

E com elas acontecem da mesma forma: todos os meses, num certo dia, os frutos nascem. E é nessa hora que se vê, quais são as famílias inteligentes e quais são as burras. Não contem para ninguém o segredo que eu vou revelar agora, tudo bem? O segredo é que nas famílias inteligentes o fruto do final do mês é verdinho, verdinho e saboroso, tanto que chegamos a pensar que estamos no céu! Já os frutos vermelhos e com gosto horrível, só brotam dos pés das famílias burras!

Eu, como já disse, ultimamente tenho comido só do fruto vermelho. Juro para todos e por tudo nesse mundo: eu não sou burro. Bem, só um pouquinho... Mas vamos esquecer isso!

Achava eu, com muita certeza, que de noitinha, pessoas vinham roubar os meus deliciosos frutos verdes, deixando somente os vermelhos. Por outro lado, já pensei que eles podem fazer esse mesmo serviço durante a luz do dia, embaixo do meu nariz empinado. Porém, a pergunta é: quem os rouba?

As minhas viagens para a Europa foram canceladas, o telefone cortado, até os passeios inexistentes tornam-se insuportáveis para se ir, nunca mais vi o meu pé dar verde. Esse meu pé só está andando para trás.

E os outros trocam de carro, fumam dinheiro, compram TV, computador, rádio, moto. Sabe por quê? Porque o pé deles dá frutos verdes.

Essa história é muito chata! Entedia-me de escrevê-la. Entedia-me arrumá-la. Entedia-me porque o pé dos outros dá dinheiro e o meu dá chulé. E, acreditem-me, um pé com chulé, como o meu, é insuportável.

Eduardo Franciskolwisk

Chapeuzinho Vermelho Necessitado

Era uma vez um menininho muito lindo, que, aliás, parecia muito comigo, mas que não era eu! Um dia, enquanto brincava de não fazer nada, ouviu sua mãe lhe dizendo:

– Meu lindo filho, você poderia ir até a casa da sua avozinha para roubar 2 batatas, 1 cenoura e meia cebola?

E o menino respondeu:

– Claro mamãe, assim já vou treinando para quando ser político aqui no Brasil!

– Meu lindo filho, porém, você tem que tomar alguns cuidados especiais para que chegue a salvo na casa de sua avó! Vá pela avenida vinte e sete e depois vire a rua 16. Não converse com nenhum lobo mau e muito menos com o cobrador daquela conta enorme que eu ainda não paguei!

– Tudo bem mamãe, se é assim que você quer, assim eu vou ver se faço. Mas, como isso daqui é uma paródia da história do chapeuzinho vermelho, você tem que dar uma cestinha onde serão colocados os produtos do roubo!

– Você tem razão, meu lindo filho!

E após concordar com o filho, trouxe uma linda cestinha, era a mais linda cestinha que existia naquela casa.

– Mas mamãe... isso daqui é uma sacola de supermercado! O que os animaizinhos da cidade vão dizer ao me verem fazendo propaganda de graça?

– Cala a boca, sua anta! – a mamãe cochichou no ouvido do menininho lindo. – Não vê que é só para ajudar a camuflar o desvio da mercadoria?

Como o menininho lindo, além de lindo era inteligente, ele entendeu tudo depois de 2 horas de explicação. E partiu rumo a casa da vovó!

Por um momento ele pensou em desobedecer à sua mãe, pois queria andar o menos possível, mas logo percebeu que o caminho por ela indicado era o menor. Então, pôs-se a cantar aquela musiquinha “Pela estrada a fora, eu vou bem sozinha...”, todavia, claro, ele tinha que mudar a letra! E cantou:

– “Pela vinte e sete eu vou bem sozinho,

Roubar uns negócios lá da vovozinha,

Ela mora perto, o caminho é de asfalto

E se eu ver o lobo ele eu também assalto.”

E a casa da vovó era tão perto que só de cantar esses quatro versinhos ele já tinha chegado! Abriu a porta tão rápido que nem viu o gato desmaiar quando levou uma portada na cabeça. Bem feito, quem mandou ficar ensebando atrás da porta! Rá, rá rá!

A avó estava sentada à mesa e ao vê-la ele disse:

– Vovó, eu posso roubar... – ele não pôde terminar a frase devido ao susto que levou e como deu vontade de perguntar outra coisa ele perguntou – Vovó, porque essa sobrancelha tão grande?

A velhinha olhou para o netinho lindo e falou inconformada:

– Ora, seu avoado, isso daqui é daquele dia que eu caí e dei de cara com o chão, você não se lembra? Aí, teve que dar pontos e ficou esse troço enorme!

– Ah... eu já nem me lembrava! – o garoto pensou um pouco e logo fez outra pergunta - Vovó, porque os seus dentes são tão bonitos?

– É porque eu comprei aquelas dentaduras que estavam na promoção na loja de R$ 1,99 no ano passado.

E o menino não cansava de perguntar:

– Vovó, porque a sua casa fede tanto?

– É por causa dos bichos da sua irmã.

– Ah... achei que fosse por causa das visitas que você sempre recebe. Por falar nisso, vovó, porque você só recebe visitas incômodas nas horas impróprias?

– Bem, meu netinho, é porque... é porque... sei lá o por quê! Mas o que você veio fazer aqui?

– Eu vim roubar umas coisas da sua geladeira, posso?

– Pode sim... Vá a até a cozinha e pegue o que precisar.

E assim fez o lindo menininho. Só que ele estranhou, ele estranhou de verdade. E se perguntou:

– O que o elefante Dumbo está fazendo na sala da casa da avó do chapeuzinho vermelho (que não tinha chapéu nenhum e que tão pouco era vermelho)?

Depois ele pensou que nesse mundo globalizado já não devia mais ter essas coisas de que o personagem de uma história só podia trabalhar naquela história. O dinheiro hoje está difícil e é exatamente por isso que ele estava ali, para roubar produtos caríssimos.

Roubou tudo o que podia e o que não podia. E o elefante Dumbo ajudou sem reclamar. Como eu, quero dizer, o menininho era inteligente ele não roubou tudo, ele deixou metade de tudo o que deveria roubar. Afinal de contas, ladrão de verdade é aquele que rouba, mas deixa a pessoa em condições de sobrevivência para roubá-la novamente, num outro dia!

Parando de contar detalhes chatos, o menininho perguntou de novo para a avó:

– Vovó, porque o elefante Dumbo é tão grande?

– Elefante Dumbo? Ah... já sei... aquilo lá não é o Dumbo, aquilo é uma cobra que engoliu uma bola gigante dos parques de diversões.

O menininho se conformou com a resposta, mas antes quis saber:

– Você não quer eu mate ela?

– Não, já liguei para o caçador vir até aqui fazer o serviço! Daqui uma semana ele vem!

Uma semana era muito tempo comparado aos meios de comunicações atuais: telefone, internet, televisão, jornais. Dito e feito, o assalto havia sido descoberto! Coitadinho dele, vai ficar com frio!

Frio? Rá, rá, rá. Ele iria é ficar muito quente!

– Mamãe, aqui está o assalto, tudo ocorreu perfeitamente.

A mãe dele não falou nada naquele momento, somente mais tarde falaria para o garotinho que haveria mais um Festival da Palhaçada no domingo. Esse festival acontecia algumas vezes por ano por motivos que nem vale a pena ressaltar. E sempre era na casa da vovó.

O dia da festa tinha chegado, muitos personagens de histórias diferentes estavam lá. Depois da mamãe do garotinho, do lindo garotinho e da vovó do lindo garotinho, a criatura que chegou na casa da vovó foi A Bela Envelhecida. Logo mais tarde chegaram o Dunga e aquela cobra que engoliu uma bola de parque de diversões. E só a presença essas pessoas foi suficiente para que o barraco se armasse.

Como o contador da história, ficarei devendo as baixarias ocorridas e só posso dizer que o menininho era inocente. Roubou, mas era inocente, pois tinha perguntado se poderia ou não roubar sua vovó. E ela tinha permitido.

Posso contar também que no Festival da Palhaçada, depois de todos os palhaços terem se apresentado chegou uma fada. Chegou, mas chegou atrasada. Adivinhem só quem era essa fada! Era aquela mesma fada que por se sentir rejeitada, amaldiçoou a Bela Adormecida, que, aliás, dorme até hoje. Particularmente eu acho que ela morreu. O fato é que essa fada se sentiu de novo rejeitada por não a terem esperado para as apresentações circenses e começou a amaldiçoar a todos que ali estavam.

No meio de tanta falação, pode-se perceber que A Bela Envelhecida estava bêbada como em todos Festivais da Palhaçada. O Dunga, por uma benção de alguém, não pronunciou uma palavra e ficou quieto no seu canto como se nada estivesse acontecendo. Quem me dera se todos os sete anões fossem iguais ao Dunga... A fada injustiçada estava mais parecendo da Bahia, porque não parou de rodar a baiana! E a cobra, lembram dela? A cobra não parou de cobrar! Com certeza ela nunca cobrou tanto na sua vida. Ela junto da Bêbada Envelhecida cobraram até o que não estava pendente. Rá, rá, rá. Uma delas chegou a morder a língua de tanta cobragem que disse. Porém, logo depois continuou, pois o tamanho da língua delas é quilométrico! Ou seja, aquele pedacinho não faz falta algum! Ou será que ele se regenera? É... deve ser isso!

Depois de tanta palhaçada, o Festival da Palhaçada terminou com outra palhaçada. A vovó, de saco cheio, pegou o seu taco de beisebol e expulsou todo mundo de sua linda casa. Para quem não sabe, taco de beisebol de velhos é um troço chamado bengala. Só que a vovó do garotinho lindo, como é uma avó atualizada e moderna apareceu com uma bengala de quatro canos e que é carinhosamente apelidado de andador. Foi por isso que todo mundo se assustou e foi embora.

A história não termina assim, ela termina com o lindo garotinho sentado na frente de sua casa olhando o pôr-do-sol. Em todos que vissem a cena poderiam afirmar:

– Certamente, esta história não termina aí. Haverá o segundo capítulo! Haverá a parte dois!

E sentado em frente de casa, o garotinho legal esperava passar o caçador que mataria a cobra que engoliu uma bola enorme de parque de diversões. Talvez, ele esperava um advogado!

Eduardo Franciskolwisk

A casa mal-assombrada com olhos

Sim, existem casas mal-assombradas. Sei disso porque meu irmão morreu nesta casa e nunca mais deixou nossa família em paz. Coisas terríveis começaram a acontecer.

No dia em que o enterramos, mamãe passou a ter pesadelos. Desde então, não soube mais diferenciar os sonhos da realidade. Os sonhos com meu irmão, um dia, a levou para a porta do cemitério onde ele estava enterrado.

– Quando eu vi meu filho, entrei no cemitério sem pensar duas vezes. Eu precisava de seu perdão.

Mamãe foi encontrada toda ensangüentada e seus dois olhos, em cima do túmulo de seu filho mais novo.

As pessoas da cidade onde moro ficaram revoltadas. Queriam a qualquer custo pegar o responsável por tamanha injustiça. Nem notaram o desaparecimento repentino de meu cão.

Algumas semanas se passaram e quando tudo parecia estar bem, outra fatalidade aconteceu. Minha única irmã, ao chegar em casa, percebeu que a porta do quarto de nosso falecido irmão estava aberta. Isso era estranho porque aquela porta sempre, sempre, esteve fechada desde o acontecimento.

Sem coragem para ir até aquele quarto, foi para a cozinha e minutos depois, quando voltou, a porta já estava normalmente fechada.

– Agora, fico mais tranqüila para tomar um banho.

Coitada! Durante seu banho de banheira, um vulto se mexeu diante dela e a água que antes era incolor e cristalina estava vermelha. Fui eu quem encontrou o corpo. Assustadoramente, este também estava sem seu par de olhos.

Agora, só eu vivia naquela casa. Pensei:

– Sou o próximo a morrer.

Mas não aconteceu assim. Tinha me esquecido da empregada. Esta, ao chegar em casa num sábado de manhã, horário em que não me encontro em casa, esqueceu-se de que não podia abrir a porta do quarto de meu irmão e teve a cabeça decepada por uma espada de estilo medieval. O corpo da mulher deve ter ficado dentro do quarto, porque em frente só foi encontrada a cabeça. Sem os olhos!

Eu não pensava em outra coisa além de entrar naquele quarto para saber o que estava acontecendo.

Devo dizer que meu irmão morreu de uma doença que tinha cura e que, mais ou menos, um mês antes de morrer começou a sentir alguns órgãos doerem, uma tontura fortíssima e outras coisas que já não me lembro por não ter prestado atenção em suas reclamações. Assim como ninguém, que vivia nesta casa, fez!

Com coragem abri a porta, entrei rapidamente e pude ver a pior cena da minha vida. Na cama, inexplicavelmente, estavam deitados os restos mortais de meu irmão. Em sua volta, estavam três pares de olhos e meu cão, todos virados para a cama, como se estivessem olhando para o corpo deitado. Como se estivessem prestando atenção naquele cadáver.

Meu irmão, antes de morrer, havia me dito que iria pegar todos os responsáveis por sua morte, mas ele ainda não conseguiu me pegar!

Eduardo Franciskolwisk

Os Prêmios de Ôpis

Todos os anos era publicada um lista com os nomes de pessoas campeãs em várias modalidades criadas pelo pessoal ali mesmo daquela pequena cidade. Nunca nenhum habitante imaginou que algum dia a minúscula cidade de Ôpis pudesse receber a visita do canal de TV mais famoso daquele país. E isso foi o que aconteceu! A televisão estava lá para acompanhar de perto a escolha dos nomes campeões nas tais modalidades que só aquela cidadezinha tinha.

– Estamos aqui, diretamente da cidadezinha de Ôpis onde logo mais serão apresentados ao público os vencedores das cinco modalidades que só essa pequena cidade tem.

Tentando explicar um pouco mais sobre as modalidades para seu público, o repórter continuou:

– E para quem não conhece essas modalidades são elas: Prêmio Pessoa Chata Revelação; Prêmio Quem Você Mandaria Para o Espaço?; Prêmio Você É Feio Pra Burro!; Prêmio Arrogância, Burrice e Mala-sem-alça; e, por fim, o único prêmio que concederá um bom título a quem o receber... É completamente o oposto do último: Prêmio Modéstia, Inteligência e Mala-com-alça-e-com-rodinhas! Todos nós estamos muito ansiosos para conhecer os vitoriosos desta noite. Porém, a cerimônia começará daqui a uma hora, ou seja, às sete horas da noite. Por isso, voltamos ao ar dentro de alguns minutos já transmitindo essa grande festa dessa pequena cidade.

O repórter saiu do ar e deu lugar a algumas propagandas. Uma delas, sobre cenoura, tinha como personagens um coelho e um gato onde um tentava convencer o outro de que ele também era um coelho e por isso tinha que comer cenoura. Mais detalhadamente a propaganda era assim:

Começava com uma linda e cenourosa música que tocava alegremente, ao som da qual aparecia o coelho dançando feliz por ter achado a cenoura da sua vida. Ele, então, senta-se no banco da pracinha e, mexendo o nariz como fazem os coelhos, se prepara para comer a sua deliciosa comida. De repente, a música perde a alegria e um gato triste, magro e desempregado aparece:

– Miau! Eu sou um gato, miau!

Sem nenhuma perda de tempo, o coelho lança um olhar sedutor para o gato dizendo:

– Vai uma cenourinha aí, senhor gato? – e mexeu de novo o nariz.

– Eu sou um feinho... quero dizer, um felino, e felinos não comem cenouras, miau. – respondeu o bichano.

– Se você comer a minha cenourinha, você vai dar pulos bem altos e ficar forte como um elefante.

– Miau, mas eu não quero porque eu já sou um bom pulador e não preciso ser forte porque eu tenho sete vidas e só isso me basta, miau! Afinal, miau, eu sou um gato!

O coelho, vendo que o gato não ia aceitar a cenoura por ser um gato, tentou enganá-lo:

– Um gato? – e mexeu o nariz como fazem os coelhos – Quem te disse tamanha mentira? Gatos não têm orelhas grandes como as suas e tampouco mexem o nariz com eu faço. E você amigo, não é um gato, você é um coelho. Igualzinho a mim! Bonitão como eu!

– Sério mesmo que eu sou um coelho?

– Sim.

– E eu achando que eu fosse um gato...

– Bobeira sua! – respondeu o coelho! – Já que você é um coelho agora pode comer cenoura, não é verdade?

– É, me dá ela aqui! Eu vou comendo no caminho, acabo de ter uma idéia maravilhosa!

Então, o coelho deu a cenoura para o gato, que agora se achava um coelho, e se dirigiu para o mesmo banco em que estava sentado antes do gato chegar. Pensou em como seria recompensado por ter convencido um gato a virar coelho só para comprar o produto para o qual ele trabalhava!

O gato-coelho por estar desempregado se dirigiu ao CEPCQQTCCPDP (Centro de Empregos Para Coelhos Que Querem Trabalhar Como Coelhos da Páscoa Durante a Páscoa). Afinal de contas, ele era um coelho e queria trabalhar! Todavia não foi bem recebido no local e depois de apanhar muitos dos outros coelhos voltou para casa triste, magro, desempregado e todo arrebentado num dia que sempre seria lembrado.

Depois disso, o coelho de verdade, ainda sentado no banco, vira-se para a câmara e diz:

– Cenouras Minha, Nossa Cenoura , o primeiro contato é inesquecível!

E o gato aparece de novo, lembrando dos fatos acontecidos:

– Minha Nossa Senhora! – disse o gato.

– Eu não disse que o primeiro contato é inesquecível? – sorriu o coelho!

Assim, a música alegre e contagiante do começo do comercial tocou de novo e também de novo o coelho dançou feliz! Segundos depois apareceu um tamanduá com quem o coelho puxou conversa e ofereceu uma cenoura.

Foi assim que terminou o comercial! Como o comercial era grande, a uma hora já tinha se passado e o repórter entrou com tudo para cobrir a grande festa:

– Minha Nossa Cenoura! Que propaganda chata! Ops, quero dizer... o que eu estou dizendo? Esqueçam! Bem, a cerimônia começa agora!

Uma moça gorda e feia subiu ao palco e aos berros e com sua voz irritante falou:

– Sou eu quem vai apresentar os nomes vencedores de todos os prêmios desta noite. Pois então, vamos começar com o Prêmio Pessoa Chata Revelação.

Após uma longa pausa, ela continuou:

– E o Prêmio vai para.... Coma Minha Nossa Cenoura! Ele é autor da propaganda que acabamos de ver pela televisão e dono da empresa que mais vende cenouras por aqui!

O homem se levantou da platéia e foi receber seu prêmio. Minutos depois, o repórter foi até o senhor Coma para entrevistá-lo:

– Coma, como é receber o Prêmio de Pessoa Chata Revelação?

– É maravilhoso... Eu me esforcei muito para chegar até aqui e graças ao meu último comercial agorinha há pouco na TV eu ganhei este lindo prêmio!

– Porque o senhor dá toda glória ao seu último comercial de TV?

– Porque eu fiquei sabendo que o Prêmio Pessoa Chata Revelação iria ser dado a você, meu caro amigo repórter... Já que você é chato e é novo por aqui... Então, eu pensei: “Meu Deus, esse chato não pode ganhar de mim, eu tenho de ser mais chato que ele.” E por isso eu tentei e consegui ser mais chato que você e levei esse prêmio para casa.

Meio sem graça o repórter o agradeceu pela entrevista e fez sinal para que a gorda feia continuasse com a premiação. Todos olharam para ela quando ela abriu aquela boca fedorenta e com uma voz ensurdecedora:

– Gente, agora vamos entregar o Prêmio Quem Você Mandaria Para o Espaço? Estou abrindo o envelope... E o prêmio vai para... vai para... Meu Deus, que felicidade! Este prêmio vai para mim! Quanta emoção, pessoal... Obrigada!

O homem da TV já estava ao lado dela para entrevistá-la:

– Moça, qual a emoção de ganhar o Prêmio Quem Você Mandaria Para o Espaço?

– A emoção é...

E a moça foi interrompida pelo repórter que lhe fez um pedido:

– Você pode falar virada com a boca pra lá? É que o seu bafo está muito forte!

– Tudo bem... A emoção de ganhar esse prêmio é muito boa... Sabe? É uma coisa muito, assim, boa! Entende?

– Ah... tá...! Sabe que temos outra surpresa para você? - perguntou o repórter!

– Verdade? – perguntou aquela voz irritante – Qual é?

– Como você é a vencedora do Prêmio Quem Você Mandaria Para o Espaço? nós, da TV, decidimos te presentear com uma passagem de ida, somente de ida, no primeiro foguete que for para o céu. E vá agora porque senão você perde o foguete... pode deixar que eu tomo conta da cerimônia.

A moça gorda, feia, com um bafo de matar qualquer um e com uma voz irritante arrumou suas coisas e disse “Tchau” e os outros responderam “Tchau, não tenha pressa em voltar, aliás, seria um grande favor se você nem voltasse”.

E assim o repórter passou a apresentar as entregas.

– Agora, vamos ao Prêmio Você É Feio Pra Burro!

Após abrir o envelope ele não ficou nadinha feliz

– Que saco, essa droga de prêmio vai para mim mesmo! Querem saber qual é a emoção de receber esse prêmio? Desgosto, porque eu sou um rapaz bonito, a minha mãe sempre disse que eu era bonito... e o meu cachorrinho também já disse isso! Bem, na verdade ele não disse nada, ele ficou quieto quando eu perguntei... mas eu considerei isso como um sim! Poxa!

A platéia queria que o espetáculo continuasse e gritou para que ele continuasse a entregar o próximo prêmio. Ainda indignado com o que tinha recebido, tentou estragar a festa.

– É assim? É assim? Olha o que eu vou fazer com essa festa de vocês! – e riu malignamente – Vou abrir esses dois envelopes de uma só vez! – e riu novamente.

A platéia se desesperou! Ele já tinha aberto os dois envelopes e naquele momento iria dizer o nome dos vencedores. Depois de rir de novo começou a falar:

– Os prêmios: Prêmio Arrogância, Burrice e Mala-sem-alça e Prêmio Modéstia, Inteligência e Mala-com-alça-e-com-rodinhas vão para... vão para... ué... estes dois prêmios tão diferentes vão para a mesma pessoa? Ambos os prêmios vão para o coelho daquele comercial chato... Meu Deus!!! Apesar de tudo, vamos entrevistá-lo. Qual é a emoção de receber esses prêmios?

O coelho respondeu:

– Apesar de serem dois prêmios a emoção é única. Eu sei que mereço esses prêmios, pois sou quem eu sou. A minha atuação maravilhosa no comercial para as Cenouras Minha, Nossa Cenoura como coelho e como gato foi digna de receber esses dois prêmios. Eu sei que eu mereço porque eu agrado ao mundo inteiro.

O repórter, com muita inveja, falou ao coelho:

– Não se pode agradar a gregos e a troianos!

E o coelho respondeu:

– Meu filho, quem disse que não se pode agradar a gregos e a troianos? Isso é conversa de fracassados!

E assim terminou a grande premiação da pequena cidade de Ôpis.

– Ops... - disse o repórter ao escutar a resposta do coelho.

Eduardo Franciskolwisk

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